Psicanálise e Educação III

PARTE III

4.1 Saúde Mental


  Ainda hoje muitas pessoas quando escutam o termo saúde seja ausência de enfermidade mental.

  Tem relação intrínseca com a nossa vida cotidiana, estando no convívio com a família, na escola, no trabalho, no esporte, nos relacionamentos amorosos, na comunidade.

  Saúde mental pode ser traduzida como a presença de felicidade, tranqüilidade de espírito, capacidade de prazer.

  Existem muitos mitos e realidades acerca da saúde mental, que os profissionais da psicanálise, psicologia, psiquiatria e educação precisam conhecer e combater, dentre eles:

  Mitos:  “Os transtornos mentais e cerebrais não são mais que um produto da imaginação.”

  “Devemos nos limitar a isolar as pessoas que sofrem uma enfermidade mental.”

  Realidades: “São enfermidades reais que causam sofrimento e incapacidade.”

  “As pessoas portadoras de uma enfermidade mental podem desenvolver suas funções e não devem ser abandonadas.”
 
  Muitas vezes a existência de um transtorno mental ou cerebral se mantém ignorado, por vontade do portador, auto preconceito ou porque a família não reconhece como uma enfermidade.

  As enfermidades mentais provocam sofrimentos e incapacidade, podendo reduzir o tempo de vida e a capacidade para vivê-la, como se pode observar nos períodos de depressão, na dependência do álcool, levando o portador ao crime e às vezes ao suicídio.

Ensina a Dra. Glória Llaza Loayza
Poca gente sabe lo que realmente es salud, en cambio todos sabemos lo que es enfermedad; si partimos del concepto de salud de la OMS, entendida como 'El completo estado de bienestar físico, mental y social, y no solo la ausencia de dolencias o enfermedad' percibiremos que solo la variable biológica - física, corresponde estrictamente al campo médico, y que otras variables requieren la necesaria colaboración de otros sectores, prácticamente de todos los sectores que se vinculen con el quehacer humano; de esta manera salud reclama para su atención un enfoque multiprofesional y multisectorial.[10]
 
  Aristóteles também, com invulgar sabedoria, lecionou ''Psique (alma) e corpo reagem de modo complementar uma com outro, em meu entender. Uma mudança no estado da psique produz uma mudança na estrutura de corpo, e à inversa, uma mudança na estrutura de corpo produz uma mudança na estrutura da psique''.

  Na Grécia clássica, os modelos de Saúde Mental se revelavam como: Eutimia (paz da alma), Eudaimonia (felicidade) e Sophrosyne ou ataraxia (moderação ou sobriedade) .

  Para Hadfield: 'Saúde mental é o funcionamento pleno e harmonioso de toda a personalidade”.

  Para S. Freud: 'Saúde Mental é capacidade de amar, trabalhar e sorrir.”

  Ensina-nos Carlos Estevam:

  “Um dos aspectos mais interessantes da doutrina de Freud é o fato de considerar que não existe uma grande separação entre a vida normal que levamos todos os dias e a vida anormal dos doentes mentais. Para Freud há uma perfeita continuidade ligando o que é normal e o que é anormal. Ser capaz de mostrar essa ligação e essa continuidade foi um dos grandes méritos de Freud, pois, ao afirmar que o anormal não é tão anormal como se pensa, Freud não estava querendo dizer que o mundo é um hospício e que existe um louco no fundo de cada ser humano. Ao contrário, mostrando que o anormal está mais próximo de normal do que supomos, Freud está chamando nossa  atenção para o fato de que a cura do anormal e o restabelecimento da normalidade é muito mais fácil do que supomos.”  [11]


5 INTELIGÊNCIA

  É a faculdade de aprender, apreender ou compreender; percepção, apreensão.
  Ensina-nos o psicólogo francês Henri Piéron:

  Este termo de uso comum pode ter, em Psicologia, quatro significados diferentes:

  1. Na antiga psicologia das faculdades, a inteligência, a sensibilidade e a vontade correspondiam a todo um conjunto de funções, compreendendo todos os aspectos da vida mental.

  2. No estudo do desenvolvimento e sua medida, designa-se muitas vezes, por inteligência o nível mental, globalmente considerado. Dever-se-ia especificar sempre, nesse caso, que se trata de inteligência “global” (CLAPAREDE)

  3. O termo “inteligência geral” tem sido muitas vezes empregado para designar um fator geral, comum a todas as operações mentais ( “fator G” de SPEARMAN; “fator inato das atividades cognitivas” de C. BURT).

  4. Em Psicologia Comparada e Diferencial, inteligência designa (com especificações variáveis) a capacidade de resolver problemas, de encontrar soluções para situações novas, de qualquer espécie. Opõe-se às capacidades instintivas ou aprendidas, mais ou menos automatizadas. Essa capacidade, de natureza complexa, dependeria, essencialmente, de uma aptidão hereditária. [12]


6 APRENDER

  É o ato de aquisição do conhecimento de alguma coisa por meio de estudos ou pela experiência. Podemos adquirir o aprendizado pela forma científica ou empírica.


7 APREENDER

  É o ato de assimilar mentalmente, entender, compreender alguma coisa.


Notas

1. PIÉRON, Henry.  Dicionário de Psicologia. Tradução para o português de Dora de Barros Rio de Janeiro: Edi tora Globo S.A. 1987. p. 432.

2. Cf. TRINDADE, Jorge. Manual de psicologia jurídica para operadores do direito, p. 60.

3. Cf. TRINDADE, Jorge. Manual de psicologia jurídica para operadores do direito, p. 61.

4. Introjeção: Termo originário da filosofia para designar as representações do mundo exterior englobadas no psíquico ou na projeção de representações interiores os objetos do mundo exterior. Em psicanálise, é utilizado para designar a incorporação dos objetos pelo ego como fonte de prazer.

  5. COSTA, Sérgio Fernandes da. Teoria psicanalítica I. material didático para a disciplina – psicanálise, p. 2.

  6. CF. PIÉRON, Henry.  Dicionário de Psicologia. Tradução para o português de Dora de Barros Rio de Janeiro: Edi tora Globo S.A. 1987. p. 100.
 
  7. WARREN, Howard C. Diccionario de psicología..  Traducción y revisión de E. Imaz, A. Alatorre y L. Alaminos. México, D. F: Fondo de Cultura Económica. 1948, p. 62.

  8. Cf. ORSINE, Paula. Mente sã em corpo são. Disponível em : <  https://jbonline.terra.com.br/jb/papel/colunas/orsini/2004/11/20/jorcolors20041120001.html > Acesso em 03/07/06.

  9. Cf. Programa “Terra de Minas” apresentado pela Rede Globo, sábado dia 22 de julho de 2006.

  10. LOAYZA, Dra. Gloria Llaza. Salud Mental.
         Disponível em : < https://www.ucsm.edu.pe/ciemucsm/pages/salme.htm > Acesso em 09/07/06.

           11. ESTEVAM, Carlos. Freud : vida e obra. 7. ed. Rio de Janeiro: José Álvaro, Editor S.A. , 1967. p.47.

  12. PIÉRON, Henry.  Dicionário de Psicologia. Tradução para o português de Dora de Barros Rio de Janeiro: Edi tora Globo S.A. 1987. p. 290.
 
11 CONCLUSÃO 

  Concluímos a nossa pesquisa confirmando que a psicanálise e a educação estão intrinsecamente ligadas uma a outra.

  A conclusão supra resultou do somatório de conhecimentos, auferidos em boas leituras, cuja bibliografia parcial segue em anexo, das experiências vividas em salas de aulas na condição de aluno e de professor e também nas análises feitas na condição de psicanalista, envidando todos os nossos esforços para bem aplicar a psicanálise em benefícios de nossos educandos.

  Somando ainda, o aprendizado nas aulas assistidas e proferidas no curso de Psicanálise Clinica na ESFLUP – Escola Fluminense de Psicanálise Clinica – Nova Iguaçu – Rio de Janeiro.

  Nos ensinamentos auferidos com a participação em palestras e congressos, em especial no II SEGUNDO CONGRESSO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO, realizado em Belo Horizonte – Minas Gerais nos dias 08 a 10 de abril de 2005 e no VI FORUM MINEIRO DE PSICANÁLISE, com a temática: A ÉTICA DA PSICANÁLISE: DO PARTICULAR AO COLETIVO, realizado nos dias 02 a 04 de junho de 2006 em São João Del Rei – Minas Gerias.

  Afigurando-me assim a imprescindibilidade da participação de todos, na formação de nossas crianças, adolescentes, jovens e adultos, inclusive com a interligação das ciências.

  Sabemos que não existem fórmulas já pré-estabelecidas e eficazes para educar, considerando também que não existem duas pessoas iguais e, na dinâmica da vida, o ontem é diferente do hoje, assim como o amanhã certamente apresentará suas novas peculiaridades.

  E o que dizer então das crianças e adolescentes, cujos sonhos e vontade de ser e aprender modificam-se com maior intensidade, num constante buscar de novas realidades e na maioria das vezes, cercados pela incerteza e pelo medo do futuro, e  sobretudo, pela vulnerabilidade comum, àqueles que estão em processo de formação?

  Precisamos, então, participar cotidianamente de suas vidas, oferecendo-lhes o melhor de nossas experiências vividas e aprendidas ao longo do tempo. Fornecer o exemplo, praticar o dialogo constante, materializado na prática diária da tolerância, com paciência franciscana, sem, contudo deixar faltar e exercitar a hierarquia e o respeito recíproco.

  Não importa a condição em que nos encontrarmos sendo: pais, diretores, professores, secretários, serventuários, psicólogos, psicanalistas. É nosso compromisso e dever oferecer-lhes o que temos de melhor. Ainda que o nosso melhor não seja o suficiente, mas que seja tudo que tivermos e pudermos.

  E, para começar, podemos guiar-nos pelos ensinamentos daquela professora mexicana, com 101 anos de idade e completando 86 de magistério, ainda em atividade no ano de 2004, que asseverou:

“Eu não expulso, eu não condeno. Eu convenço.”

Sabemos que desde o nosso nascimento, muitas pessoas passam por nossas vidas, compartilham das nossas alegrias, das nossas tristezas, dos nossos encontros, desencontros, momentos, emoções, ações e omissões. Enfim, ajudam-nos a ser o que somos, colaborando com nossa formação física, emocional e intelectual. Unamos então, nossas forças e nossas habilidades e, com a colaboração de todos, seremos fortes e esta união refletirá em resultados positivos para as futuras gerações.

  Ademais, se não temos em mãos todos os instrumentos necessários, façamos bom uso destes que temos e que são básicos e essenciais: a oportunidade de educar, estando em sala de aula e a oportunidade de compreender e motivar quando estivermos com o analisando no consultório.

  Enfim, a psicanálise e a educação, juntas e bem administradas muito poderão fazer para a formação do cidadão, confirmando a insofismável assertiva do poeta latino Juvenal “ Mens sana in corpore sano” .


Anexo 1
O LIVRO E A AMÉRICA (Ao Grêmio Literário)
CASTRO ALVES, Antônio Frederico – Muritiba, 1847- Salvador, 1871

O LIVRO E A AMÉRICA

 'Talhado para as grandezas,
P'ra crescer, criar, subir,
O Novo Mundo nos músculos
Sente a seiva do Porvir.
--Estatuário de colossos--
Cansado doutros esboços
Disse um dia Jeová:
'Vai, Colombo, abre a cortina
'Da minha eterna oficina...
'Tira a América de lá'.

Molhado inda do dilúvio,
Qual tritão descomunal,
O continente desperta
No concerto universal.
Dos oceanos em tropa
Um--traz-lhe as artes da Europa,
Outro-- As bagas do Ceilão...
E os Andes petrificados,
Como braços levantados,
Lhe apontam para a amplidão.

Olhando em torno então brada:
'Tudo marcha!... Ó grande Deus!
As cataratas -- P'ra terra,
As estrelas -- para os céus
Lá, do polo sobre as plagas,
O seu rebanho de vagas
Vai o mar apascentar...
Eu quero marchar com os ventos,
Com os mundos... co'os firmamentos!!!'
E Deus responde -- 'Marchar!'

'Marchar!... Mas como?... Da Grécia
Nos dóricos Partenons
A mil deuses levantando
Mil marmóreos panteons?...
Marchar co'a espada de Roma
-- Leoa de ruiva coma
De presa enorme no chão,
Saciando o ódio profundo...
-- Com as garras nas mãos do mundo,
-- Com os dentes no coração?...

'Marchar!... Mas como a Alemanha
Na tirania feudal,
Levantando uma montanha
Em cada uma catedral?...
Não!... Nem templos feitos de ossos,
Nem gládios a cavar fossos
São degraus do progredir...
Lá brada César morrendo:
'No pugilato tremendo
'Quem sempre vence é o porvir!'

Filhos do sec'lo das luzes!
Filhos da Grande Nação!
Quando ante Deus vos mostrardes,
Tereis um livro na mão:
O livro -- esse audaz guerreiro
Que conquista o mundo inteiro
Sem nunca ter Waterloo...
Eólo de pensamentos,
Que abrira a gruta dos ventos
Donde a igualdade voou!...

Por uma fatalidade
Dessas que descem de além,
O sec'lo, que viu Colombo,
Viu Gutemberg também.
Quando no tosco estaleiro
Da Alemanha o velho obreiro
A ave da imprensa gerou...
O Genovês salta os mares...
Busca um ninho entre os palmares
E a pátria da imprensa achou...

Por isso na impaciência
Desta sede de saber,
Como as aves do deserto --
As almas buscam beber...
Oh! Bendito o que semeia
Livros... livros à mão cheia...
E manda o povo pensar!
O livro caindo n'alma
É germe -- que faz a palma,
É chuva -- que faz o mar.

Vós , que o templo das idéias
Largo -- abris às multidões,
P'ra o batismo luminoso
Das grandes revoluções,
Agora que o trem de ferro
Acorda o tigre no cerro
E espanta os caboclos nus,
Fazeei desse 'Rei dos ventos'
-- Ginete dos pensamentos,
-- Arauto da grande luz!...

Bravo! a quem salva o futuro
Fecundando a multidão!...
Num poema amortalhada
Nunca morre uma nação.
Como Goethe moribundo
Brada 'Luz!' O Novo Mundo
Num brado de Briaréu...
Luz! pois, no vale e na serra...
Que, se a luz rola na terra,
Deus colhe gênios no céu!...




Anexo 2

DECLARAÇÃO DOS DIREITOS DO HOMEM E DO CIDADÃO: 26 DE AGOSTO DE 1789


  PREÂMBULO: O Povo Francês, convencido de que o esquecimento e o desprezo dos direitos naturais do Homem são as únicas causas das infelicidades do mundo, resolveu expor numa declaração solene estes direitos sagrados e inalienáveis, a fim de que todos os cidadãos, podendo comparar sem cessar os atos do Governo com o fim de toda instituição social, não se deixem jamais oprimir e aviltar pela tirania; para que o Povo tenha sempre distante dos olhos as bases da sua liberdade e de sua felicidade, o Magistrado, a regra dos seus deveres, o Legislador, o objeto da sua missão.
  Em conseqüência, proclama, na presença do Ser Supremo, a Declaração seguinte dos Direitos do Homem e do Cidadão.
  I A finalidade de qualquer sociedade é a felicidade comum. O governo é instituído para garantir ao homem o gozo destes direitos naturais e imprescritíveis.

  II Estes direitos são a igualdade, a liberdade, a segurança e a propriedade.

  III Todos os homens são iguais por natureza e diante da lei.

  IV A lei é a expressão livre e solene da vontade geral; ela é a mesma para todos, quer proteja, quer castigue; ela só pode ordenar o que é justo e útil à sociedade; ela só pode proibir o que lhe é prejudicial.

  V Todos os cidadãos são igualmente admissíveis aos empregos públicos. Os povos livres não conhecem outros motivos nas suas eleições a não ser as virtudes e os talentos.

  VI A liberdade é o poder que pertence ao Homem de fazer tudo quanto não prejudica os direitos do próximo: ela tem por princípio a natureza; por regra a justiça; por salvaguarda a lei; seu limite moral está nesta máxima: - "Não faças aos outros o que não queres que te façam a ti".

  VII O direito de manifestar seu pensamento e suas opiniões, quer seja pela voz da imprensa, quer de qualquer outro modo, o direito de se reunir tranqüilamente, o livre exercício dos cultos, não podem ser interditos. A necessidade de enunciar estes direitos supõe ou a presença ou a lembrança recente do despotismo.

  VIII A segurança consiste na proteção concedida pela sociedade a cada um dos seus membros para a conservação da sua pessoa, de seus direitos e de suas propriedades.

  IX Ninguém deve ser acusado, preso nem detido senão em casos determinados pela lei segundo as formas que ela prescreveu. Qualquer cidadão chamado ou preso pela autoridade da lei deve obedecer ao instante.

  XI Todo ato exercido contra um homem fora dos casos e sem as formas que a lei determina é arbitrário e tirânico; aquele contra o qual quiserem executá-lo pela violência tem o direito de repelir pela força.

  XII Aqueles que o solicitarem, expedirem, assinarem, executarem ou fizerem executar atos arbitrários são culpados e devem ser castigados.

  XIII Sendo todo Homem presumidamente inocente até que tenha sido declarado culpado, se se julgar indispensável detê-lo, qualquer rigor que não for necessário para assegurar-se da sua pessoa deve ser severamente reprimido pela lei.

  XIV Ninguém deve ser julgado e castigado senão quando ouvido ou legalmente chamado e em virtude de uma lei promulgada anteriormente ao delito. A lei que castigasse os delitos cometidos antes que ela existisse seria uma tirania: - O efeito retroativo dado à lei seria um crime.

  XV A lei não deve discernir senão penas estritamente e evidentemente necessárias: - As penas devem ser proporcionais ao delito e úteis à sociedade.

  XVI O direito de propriedade é aquele que pertence a todo cidadão de gozar e dispor à vontade de seus bens, rendas, fruto de seu trabalho e de sua indústria.

  XVII Nenhum gênero de trabalho, de cultura, de comércio pode ser proibido à indústria dos cidadãos.

  XVIII Todo homem pode empenhar seus serviços, seu tempo; mas não pode vender-se nem ser vendido. Sua pessoa não é propriedade alheia. A lei não reconhece domesticidade; só pode existir um penhor de cuidados e de reconhecimento entre o homem que trabalha e aquele que o emprega.

  XIX Ninguém pode ser privado de uma parte de sua propriedade sem sua licença, a não ser quando a necessidade pública legalmente constatada o exige e com a condição de uma justa e anterior indenização.

  XX Nenhuma contribuição pode ser estabelecida a não ser para a utilidade geral. Todos os cidadãos têm o direito de concorrer ao estabelecimento de contribuições, de vigiar seu emprego e de fazer prestar contas.

  XXI Os auxílios públicos são uma dívida sagrada. A sociedade deve a subsistência aos cidadãos infelizes, quer seja procurando-lhes trabalho, quer seja assegurando os meios de existência àqueles que são impossibilitados de trabalhar.

  XXII A instrução é a necessidade de todos. A sociedade deve favorecer com todo o seu poder o progresso da inteligência pública e colocar a instrução ao alcance de todos os cidadãos.

  XXIII A garantia social consiste na ação de todos, para garantir a cada um o gozo e a conservação dos seus direitos; esta garantia se baseia sobre a soberania nacional.

  XXIV Ela não pode existir, se os limites das funções públicas não são claramente determinados pela lei e se a responsabilidade de todos os funcionários não está garantida.

  XXV A Soberania reside no Povo. Ela é una e indivisível, imprescritível e indissociável.

  XXVI Nenhuma parte do povo pode exercer o poder do Povo inteiro, mas cada seção do Soberano deve gozar do direito de exprimir sua vontade com inteira liberdade.

  XXVII Que todo indivíduo que usurpe a Soberania, seja imediatamente condenado à morte pelos homens livres.

  XXVIII Um povo tem sempre o direito de rever, de reformar e de mudar a sua constituição: Uma geração não pode sujeitar às suas leis as gerações futuras.

  XXIX Cada cidadão tem o direito igual de concorrer à formação da lei e à nomeação de seus mandatários e de seus agentes.

  XXX As funções públicas são essencialmente temporárias; elas não podem ser consideradas como recompensas, mas como deveres.

  XXXI Os crimes dos mandatários do Povo e de seus agentes não podem nunca deixar de serem castigados; ninguém tem o direito de pretender ser mais inviolável que os outros cidadãos.

  XXXII O direito de apresentar petições aos depositários da autoridade pública não pode, em caso algum, ser proibido, suspenso, nem limitado.

  XXXIII A resistência à opressão é a conseqüência dos outros direitos do homem.

  XXXIV Há opressão contra o corpo social, mesmo quando um só dos seus membros é oprimido. Há opressão contra cada membro, quando o corpo social é oprimido.

  XXXV Quando o governo viola os direitos do Povo, a revolta é para o Povo e para cada agrupamento do Povo o mais sagrado dos direitos e o mais indispensável dos deveres.


Anexo 3

O PROFESSOR DA ROÇA

Humberto de Campos
 
             Há seis ou sete anos obteve grandes aplausos, e foi objeto de simpáticos e numerosos comentários, a idéia de erigir-se, no Rio de Janeiro, um monumento à Mãe-Preta, cujos braços envelheceram e nunca se fatigaram de embalar o filho do branco, e que privaram do leite o próprio filho para amamentar o filho do seu senhor. A lembrança era, porém, generosa demais para passar da imaginação à realidade. E como a dívida era mais da raça do que da geração, a nossa geração a deixou para ser liquidada pelas que vierem depois, resultando, certamente, daí, o seu adiantamento perpétuo. Os povos, como os indivíduos, são, sempre, maus pagadores de contas velhas.
 
            Dívida mais sagrada, ou, pelo menos, tão sagrada quanto essa, é, talvez, a que o brasileiro da cidade, o espírito urbano do nosso tempo, tem a saldar com o mestre-escola da roça, o professor de primeiras letras que exerce o seu apostolado, anônimamente, há quatro séculos, nos arraiais e povoados. A Mãe-Preta, se não teve a sua estátua monumental, foi, e continua a ser celebrada pelos homens de letras, no romance e no verso. Quem fala, porém, com reconhecimento, ou mesmo com respeito, ou sequer, sem respeito nenhum, no pequeno e obscuro professor do sertão?
 
  E, no entanto, é êle, pode-se dizer, o adubo singelo da árvore, boa ou má, da nossa democracia. Onde se acha o eleitorado brasileiro, a multidão de votantes que elegia os estadistas do Império e da primeira República e elegerá, bem o mal, os deputados e presidentes de amanhã? Está nas vilas, nos povoados, nos miúdos centros de população espalhados pelo Brasil inteiro, e que reunidos formavam e formarão, com êsse elemento eleitoral, a grande fôrça política da nação. E quem prepara êsse eleitor? Quem semeia o trigo do alfabeto nesses cérebros virgens de trato humano, para que êle se transforme, de futuro, no pão de uma idéia, de uma vontade, de uma opinião? É o mestre-escola sertanejo; é o professor da roça; é o colaborador humilde da grandeza nacional, que, nos pequenos e tranqüilos núcleos do Brasil brasileiro, toma conta dos filhos do lavrador, do vaqueiro, do pescador, enquanto o pai, a enxada ao ombro, a rédea à mão, a vela ao vento, procura, na terra amiga ou no mar agitado, o sustento de cada dia!
 
  É preciso ter viajado os remotos sertões, ou as praias inaccessíveis do norte e do centro, para compreender e admirar o mestre-escola, e a obra patriótica e anônima que êle realiza. Geralmente, é o professor particular. Uma vez ou outra, vai ao seu encontro o Estado, oferecendo-lhe uma subvenção insignificante, paga sempre com atraso, e às vezes acumulada durante meses, para ser negociada com os agiotas da cidade mais próxima. Na maioria dos casos, porém, vive das mensalidades que lhe pagam os pais que podem pagar, e que não atingem, em alguns lugares, a três mil réis por aluno.
 
  E as instalações dessas escolas são comovedoras na sua primitividade. Conhecí uma, no povoado de Morros, no Piauí, a qual, coberta de palha e cercada de troncos de carnaúba, tinha o chão de barro batido, e possuía, para os alunos, bancos de tronco de carnaubeira, rachados ao meio. Mas funcionava, e tinha frequência sem o menor auxílio oficial. E outra, em condições ainda mais precárias. Eu viajava em tôrno à baía de Tutóia, no Maranhão, quando cheguei, a cavalo, em companhia de um parente, o engenheiro Álvaro Veras, ao arraial de Carnaubeiras, no delta do Parnaíba. Anoitecia. Procuramos uma casa para nos hospedar, e fomos levados a uma, de palha, e cercada de carnaúba, como a de Morros. Apenas, não tinha portas, e o chão era de areia sôlta.
 
  À nossa chegada, acompanhados pelo caboclo prestimoso que nos ia armar as redes, fugiu da casa um porco, que alí dormia. Outros foram expulsos à fôrça e uma cabra com os seus cabritos. Noite escura e fresca. Pela manhã, erguemo-nos para continuar a viagem.
  - Sabes que casa é esta, em que dormimos? – perguntou-me o meu parente.
  - E à minha resposta negativa …
  - Isto aquí é a escola … Uma escola particular … Neste buraco há gente que sabe ler …
 
  Comoveu-me a notícia. E nunca mais me saiu da lembrança, envôlta por uma névoa de gratidão e de simpatia, a escola de Carnaubeiras.
 
  Aí, nessas oficinas sem dístico, preparam-se trabalhadores, cidadãos para o Brasil. E o artífice, o lapidador do diamante bruto, é o mestre-escola, o mestre da roça, o obscuro professor do sertão.
  Admiremos, pois, êsse herói. E celebremo-lo.



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WARREN, Howard C. Diccionario de psicología.  Traducción y revisión de E. Imaz, A. Alatorre y L. Alaminos. México, D. F: Fondo de Cultura Económica. 1948,

 

Professor Doutor Arnaldo de Souza Ribeiro

Publicado no Recanto das Letras em 28/11/2009
Código do texto: T1948969

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